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sexta-feira, 15 de abril de 2011

Games dos Anos 70 - Exposição Interativa


O Portal Games Brasil publicou na última Terça-Feira, dia 12 de Abril de 2011, uma matéria sobre um evento maneiríssimo que acontecerá durante a virada cultural. Trata-se de uma Exposição Interativa sobre "Games dos anos 70".
É uma oportunidade excelente para quem, assim como eu, além de Gamer, é estudante e/ou profissional da área de games conhecer um pouco mais sobre os primórdios do entretenimento eletronico.

Reproduzo aqui a matéria na íntegra.

A Virada Cultural 2011 será palco de um evento gratuito que com certeza agradará quem gosta de um misto de cultura e história dos videogames. Trata-se da exposição interativa Games dos Anos 70, realizada pela comunidade Gamecultura, que ocorrerá dias 16 e 17 de Abril, no SESC Santana, em São Paulo. Diversas atrações foram prometidas, como a possibilidade de jogar clássicos como Breakout e Night Driver em um Atari 2600, e conhecer relíquias como o Telejogo e o Odyssey.
Roger Tavares, curador do evento e fundador da Gamecultura, é professor e pesquisador da PUC-SP, e realiza palestras, eventos, e consultoria em games, design e educação. Atualmente faz pesquisa de pós-doutoramento sobre o tema Games e Inteligência.


Em entrevista ao portal GamesBrasil, Roger Tavares (foto ao lado) falou um pouco sobre as motivações por trás do evento e da própria comunidade que fundou, da evolução do jogos como retrato de gerações e da relação entre games e violência.

GamesBrasil - Como surgiu a ideia para definir o tema dessa exposição? Conversaram com alguns jogadores e notaram interesse nessa união de história e games?

Roger Tavares - Na verdade faz parte da missão da Gamecultura divulgar e esclarecer a cultura gamer. Para isso, tentamos, pelo menos uma vez ao ano, realizar uma exposição, um evento ou curso sobre o tema. Em 2009, fizemos a História da Música nos Games, e ano passado realizamos uma exposição sobre games dos anos 80, no SESC Consolação. O pessoal curtiu muito, e este ano o SESC Santana convidou a gente para bolar uma coisa parecida. Bom, na verdade eles não esperavam que a gente caprichasse tanto (risos). Bom, mas voltando à sua pergunta, eu e mais três amigos (Moacyr Alves, André de Abreu e Kao Cyber) temos um grupo chamado “Tiozões do Game”, que gosta de bater papo sobre o nosso assunto preferido: games. A gente se encontra em eventos e conversa com a galera mais jovem e todos curtem muito (por falar nisso, acho que estaremos presentes nessa exposição também, só um de nós até agora não confirmou).

GB - Você crê que essa 'nova geração' que já cresceu jogando videogames necessita desse resgate histórico para entender de forma mais completa o entretenimento que tanto gostam?

Roger - Sim, com certeza. Mais do que resgate histórico, é importante a memória. Nenhum organismo vive sem memória. Esse cara que joga videogame por jogar vai da primeira mesada ao primeiro salário. Ele joga só por curtição, ou porque não tem grana pra sair, ou porque os amigos jogam, bom, acho que ninguém joga pra impressionar a namorada(o), né? Mas, enfim, esse tipo de jogador não está completo, não tem cultura ou memória, e por isso ele se desfaz no vento. Não resiste à mudança dos paradigmas que ele está acostumado, como o Play 2, nem se ele tiver grana pra comprar uma maquina mais atualizada. Cultura torna a pessoa mais completa, mais integral, mais inconformada. E cultura vicia pra caramba: se você curtir cultura dos games, você vai querer cultura da música, da linguagem, um monte delas. E é isso que eu gosto de pensar quando preparo eventos, ações culturais, aulas exposições: a pessoa tem de sair diferente do que ela entrou. Não é pra curtir e esquecer, isso é entretenimento. Cultura tem de modificar as pessoas.

GB - Como foi o processo de conseguir os aparelhos e acessórios da época para a exposição?

Roger - Isso foi a parte mais fácil: quase todo o material faz parte da minha pequena coleção particular. Pequena mesmo, algo em torno de 40 aparelhos, os jogos nunca contei. Ataris atualmente eu tenho três, mas o que eu mais queria eu só consegui agora, aquele com a frente imitação de madeira. Eu gosto dos equipamentos originais, e de alguns clones marcantes. Um dia ainda vou comprar um Polystation! Eu tenho um Simon (no Brasil conhecido como Genius) original de 1974. Quando estou brincando com ele eu gosto de ficar pensando o que as pessoas estavam pensando naquela época. Acho que aquela novidade tecnológica devia trazer um pensamento mágico, mais ou menos como acontece agora, quase 40 anos depois. É essa magia que eu quero retomar na exposição: o primeiro jogo colorido, a mudança dos paddles para o joystick, os manuais e os catálogos ensinando as pessoas a segurar os aparelhos, tudo isso é muito simples pra gente hoje, mas imagina só naquela época, quando um jogo como Space Invaders tirou de circulação as moedas japonesas. Por falar nisso, a máquina de Space Invaders não é minha (mas bem que eu gostaria de ter uma), é o pessoal do SESC Santana que vai trazer, assim como um monte de outros brinquedos legais que eles tão providenciando, como o boneco Falcon, mais um monte de shows e atividades relacionadas aos anos 70. Só espero que em meio à música disco e às calças bocas de sino eles não se esqueçam do Black Sabbath Vol. 4 (1972) e do Rock Progressivo.

GB - Qual sua opinião sobre essa evolução tão grande entre o cenário gamer atual, com superproduções milionárias, em contraste com os jogos antigos, feitos praticamente 'na raça', que são o tema da exposição?

Roger - Eu, sinceramente, acho que eles não são tão diferentes assim. Acho que o ser humano de 40 anos atrás era diferente, e esses jogos eram, não só o que ele conseguia produzir, mas também entender. Atualmente estou jogando Little Big Planet, que eu considero um jogo excepcional. Mas, se ele tivesse sido lançado 40 anos atrás, ninguém ia dar bola pra ele. É o que normalmente acontece quando artistas iluminados fazem coisas que ninguém mais, a não ser eles mesmos, conseguem entender. A gente nem precisa ir tão longe: será que aquele cara que se espantava com as raquetes do Pong, teria capacidade cognitiva ou semiótica para conseguir jogar algo como Grim Fandango? O que eu acho que não pode acontecer é a gente esquecer esse passado, porque, se papai do céu me permitir, daqui a 40 anos eu quero ver o que meus alunos estarão jogando, e quero ver no rosto deles o mesmo brilho que eu tive ao jogar Pong pela primeira vez. Quero também saber, se os jogos que eu jogo hoje, Red Dead Redemption, Fallout, como você chamou, essas "superproduções milonárias", se eles vão resistir por 40 anos. Eu acho que não.

GB - Qual foi a sua principal motivação ao fundar uma comunidade que unisse games e cultura, uma abordagem meio rara hoje, restrita a publicações como a EDGE? Como isso se conecta a exposição 'Jogos dos Anos 70'?

Roger - Como você já deve ter percebido, eu fui mordido pelo bicho da cultura. E a vida sem ela é muito sem graça. O Brasil tem ótimos jornalistas de games, ótimos veículos, e alguns fanboys que eu acho até que um dia vão conseguir chegar lá. Mas aqui, no Brasil, tudo gira muito em torno da notícia, da dica, do cheat. Quando eu conceituei o Gamecultura, o site, e também a empresa, eu queria uma coisa que permanecesse. Algo que as pessoas pudessem ler, pensar, ler de novo, e com o tempo formar uma biblioteca geral para a posteridade. Não algo que fosse rápido de ser esquecido como as ações para a páscoa dentro de algum MMO coreano, e sim, algo que a pessoa pudesse pensar: putz, eureka, que demais!, como eu não tinha percebido isso até agora! A Comunidade Gamecultura também tem outras coisas além de se espírito informador, temos uma vocação formadora, afinal de contas, eu tenho 15 anos de educação superior nas costas, não dava pra ser diferente. A gente gosta de ajudar as pessoas, dar aquele empurrãozinho, que às vezes se precisa para começar. Essas exposições, cursos e ações culturais fazem parte dessa metodologia: atrair, motivar, esclarecer, informar, e porque não, contrariar, incomodar, aporrinhar.

GB - Desmistificar essa imagem de jogos como má influência para os jovens, como está sendo novamente mostrado na cobertura da triste chacina em Realengo, é uma das missões da GameCultura?

Roger - A Gamecultura busca a verdade, por mais difícil que ela seja de ser encontrada. Por um lado, eu não acredito na neutralidade tecnológica, na qual as ferramentas são apenas ferramentas, e o homem é o único responsável pelo manuseio. Esse é um tipo de pensamento comum que eu considero muito falho. Acho que as tecnologias são grandes facilitadoras sim, e por isso carregam alguma culpa no cartório. Mas, por outro lado, eu também não acredito que jogos e televisão, ou mesmo a religião, a pobreza, a falta de educação formal, possam ser responsabilizados pelas atitudes de uma pessoa adulta. Moral, no sentido de diferença entre o certo e o errado, é um valor universal, que nato ao ser humano, não necessitaria ser explicado. É claro que é muito mais complexo do que isso, pode ser uma coisa inconsciente, por exemplo, mas normalmente esse tipo de assassino sabe o quanto isso é errado e se matam, ou deixam alguém os matar no final. Segundo Gerard Jones, nos grandes massacres nas escolas, do tipo vingador da sala de aula, a presença do videogame é um elemento muito fraco. Uma criança não deve jogar GTA, isso eu sempre reforço. A classificação tem de ser respeitada porque ela é importante na formação dos modelos de comportamento da criança e dos jovens também. Se for em um ambiente controlado, como com os pais ou na escola (sim, na escola), aí fica até interessante porque existem muitos assuntos transversais à educação os quais esses jogos favorecem o debate. Eu tive uma infância muito boa, e tive todas as armas de brinquedo que eu queria. Mas nunca sequer me preocupei em ter uma de verdade, nem que fosse para me defender, porque eu sei a quantidade de treinamento que uma pessoa necessita para aprender a usar uma arma com precisão. Tive o prazer de trabalhar com o GATE, e eu sei o quanto esses caras treinam. Eu não tenho nem tempo, nem vontade, nem idade, para esse treinamento todo, de modo que se eu me metesse a ter uma arma, uma fatalidade certamente aconteceria. As poucas pessoas que eu conheço que gostam de armas, não gostam muito de videogames. Obviamente, eles preferem as armas de verdade, a "the real thing". Para finalizar, essa, e as próximas tragédias midiáticas, como game-educador eu conheço diversos benefícios comprovados que os jogos podem trazer, mas até aonde eu sei, os malefícios ainda são meras especulações.


E aí? Vamos conferir?
Vejo vocês lá!!!!


Serviço:
Exposição interativa com videogames dos anos 70 - Virada Cultural
SESC Santana, SP

Dia 16 (Sábado) das 18 às 24h, e Dia 17 (Domingo), das 11 às 16h.
Entrada - Gratuita.

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